quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Agradeço por ser deficiente renal



Lauro
         


       Hoje, durante a ultima hemodiálise antes do Natal, me surpreendi divagando, desliguei a música, minha inseparável companheira, libertei o pensamento e ele voou.
Primeiro imaginei o que seria de mim sem esta máquina, será que ainda estaria vivo? Acho que não, afinal, foram 10 anos de tratamento conservador, e em agosto meus rins cansaram de vez. Pensei que sorte nos deficientes renais temos. Uma máquina funcionando como um rim artificial. Inevitável , me veio a lembrança o comentário de meu amigo Ricardo RJ, que esta ai logo abaixo. Pois muitos lamentam a dependência dela, quantos comentários já ouvi, do tipo –“ minha vida acabou” “ O que será de mim agora?” “ droga de doença traiçoeira”
É gente, eu sei, levamos um choque ao tomar conhecimento de que nossos rins estão morrendo. Mas o médico falou, os rins estão morrendo, não nós. Temos sim muita sorte em contarmos com esta bendita máquina, sorte de na maioria dos casos, poder sonhar com um transplante. E mais, um transplante de risco muito baixo, se comparado a outros órgãos vitais. Ainda não esta satisfeito? Pois eu vou além, se por alguma fatalidade o transplante não der certo , você simplesmente volta para a máquina, e ainda não será desta vez que ira bater um papo com seus antepassados.
Ainda divagando, agradeci a Deus, ( não sou religioso, mas crente no ser superior que é Deus) por ser um doente renal, Tantos males terríveis, de cura imprevisível e que tanto maltratam os doentes que os contraem. Tenho um amigo que esta definhando, acometido de um distúrbio neurológico irreversível e incurável, que vai paralisando os músculos do organismo lenta e progressivamente. Jamais o mal alheio devera servir de consolo para nossos males, mas servem sim para nossa reflexão.
Portanto, antes de minarmos as nossas resistências com lamentações, seria interessante a gente abrir a janela que da para o mundo. E ver quantos e tantos em situações terrivelmente pior que a nossa.
Ainda olhando para a máquina, agradecia a ela pela vida, mas ao mesmo tempo entendi ser ela uma justiceira implacável. Premia aqueles que entendem que sua vida mudou, disciplinam-se, acatando as orientações de seus médicos, psicólogos, nutricionistas, e um corpo de enfermagem dedicado. Viu só quanta gente temos para cuidar de nós? E passam a ter sessões de hemodiálise mais tranquilas, com mínimas ou quase inexistentes reações adversas. Por outro lado ela é implacável com os desregrados. Dor de cabeça, câimbras, sensação de extrema fraqueza, dor de ouvido e até dor de pensamento. No seu grupo de hemodiálise, observe seus colegas, não é difícil você identificar quem não leva a sério as recomendações.
Meus amigos, eu hoje senti felicidade por tudo isto. Resolvi colocar no papel estas divagações, não porque sou dono da verdade, mas, por ser um igual a todos vocês. E peço que neste Natal, aqueles que sofrem encontrem um consolo, e que todos nós tenhamos nossas esperanças de um Ano Novo bastante feliz, concretizadas. Porque? Porque a nossa felicidade é o que realmente importa.
FELIZ NATAL
                                                                                                                                                                       

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